Em ‘A Vida por Escrito’

foto da matéria Em ‘A Vida por Escrito’

Em A Vida por Escrito, Ruy Castro – autor de O Anjo Pornográfico, Estrela Solitária, Chega de Saudades – conta que em 1999, na aula inaugural que ministrou sobre biografias, no Museu da República, Rio, diz: Bem, então, já sabem. Nem todo avô ou tio-avô dá livro! E insinua que não leva fé em netos como biógrafos. Do fundo da sala, escuta uma voz:

— O meu avô dá. E já estou fazendo!

— Ah, é? E quem é o seu avô?

— Dorival Caymmi.

Nos primeiros trinta segundos, a aluna desmontou o que era cravado para ele, pessoas da família não são as mais adequadas para biografar os parentes. O próprio Ruy afirma que Stella Caymmi realizou a tarefa com sucesso.

Quando poucos podiam ler, pouquíssimos conseguiam escrever. Na liquidez do mundo contemporâneo, são muitos os que escrevem, compõem músicas, publicam posts, dão opinião e palpites sobre todos e tudo.

Acreditamos que toda história tem o seu poder. Você não precisa ser Dorival Caymmi, ser uma grande personalidade para contar a sua história. O fato de ter morado em outro país, superado uma doença grave, sofrer com a perda de alguém querido ou ter cuidado da casa e da sua família com dedicação pode não ser grande coisa para você, mas com certeza pode ajudar, inspirar e alegrar a vida de outra pessoa.

Contar a sua história, independentemente de publicá-la ou não, pode ser uma ferramenta poderosa de autoconhecimento. Ao escrever, organizamos as ideias, colocamos em prática o que o simples pensar não consegue. E se conseguimos entregar o livro para quem está por perto, pode ser o início de um caminho de compartilhamentos. Todo mundo gosta de ouvir histórias, elas são fundamentais para lidarmos com nossos medos e desejos.

Ler o depoimento de alguém que passou pelo que passamos, saber como é o caminho das pedras pode ser acalentador. Claro, existem histórias e histórias e, cada vez mais, conteúdos e conteúdos. Qualquer coisa simples pode ser transformadora, reveladora, dependendo de como é contada.

As Mil e uma Noites é uma coletânea narrada por uma mulher que não queria ser morta pelo rei. Sem nunca contar o final, ela consegue adiar seu cruel destino. Talvez tenha sido a primeira série de que tenhamos notícia, com a ideia de amanhã tem mais!

Já falamos aqui sobre a prática das Páginas Matinais, que pode ser um começo, para destravar a mão. Lembrando que não precisa ser um diário. O bom é transmitir um estado emocional que pegue o leitor de jeito. Que o convide:

— Vem cá, quer saber como resolvi esse problema? Quer saber como enfrentei os dias na UTI? Quer saber como construí minha empresa? Chega mais, vou contar uma história…

03/07/2023

FIQUE EM CONTATO COM A OFÍCIO